Balanço do Ano 2010

Este ano eu...?


1- Realizei algum dos meus objectivos?
Não, foi um ano bastante fraco a nível de objectivos pessoais, ficou tudo inacabado. Contudo não posso deixar de dizer que o GACCUM foi um objectivo que se cumpriu com sucesso.

2- Fiz novos amigos?
Fiz, uns amigos especiais e re-encontrei outros bastante importantes.

3- Cresci?
Crescer, é todos os dias, mas sinto-me um bocadinho por metade.

4- Aprendi alguma lição?
Aprendi algumas lições, mas parece que outras, ou não quero aprender, ou não consigo aprender.

5- Fechei algum ciclo?
Nenhum dos que pensei que podia fechar. Apenas se salva o GACCUM.

6- Comecei um novo ciclo?
Sim., mas como disse, ficou incompleto e com vontade de deitar tudo ao ar.

7- Perdi alguém importante?
Perdi,

8- Desiludi-me com alguém?
Sim, todos os dias parece que isso acontece.
9- Reencontrei-me com pessoas importantes?
Reencontrei-me sim, com pessoas que foram importantes.

10- Descobri novas coisas acerca de mim?
Descobri... Mas prefiro nem falar sobre elas, acho que são coisas tristes.
11- Conheci alguém que fez a diferença?
Não.

12- Apaixonei-me?
Não.

13- Fiz algo pelos outros?
Acho que fiz, e faço sempre, mas ou não será suficiente, ou se calhar ando-me a enganar.
14- Fui boa pessoa?
Se calhar houve momentos em que podia ter sido melhor, mas ninguém é perfeito, e acho que há pessoas bem piores que eu neste aspecto.

15- Houve algo que me tivesse arrependido de não ter feito?
Há coisas que fiz que me arrependo de te-las feito.
16- Houve algo que me tivesse arrependido de ter feito?
Sim.

17- Fui feliz?
Momentos há para todos os gostos.

Anónimatos de Natal

‎Procura-se um amigo...

Não precisa ser Homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ve.ntos e das canções da brisa.
Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor... Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo.
Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, e o seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.

Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.

Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.


Devo ter algum enconsto atrás de mim

Acabei a tese na passada semana, estando pronta para imprimir. Mas só a consegui entregar hoje...
Mas hoje, quando este pesadelo acabou - E sim, pesadelo, pois não existe sonho que dure tanto tempo - pensei:

Não tive sorte com a orientadora da empresa onde estagiei;
Não tive sorte quando foi para poder fazer uma peça para o Praça da Alegria, e ela ir para o ar;
Não tive sorte com a minha orientadora da universidade;
Não tive sorte com a ajuda dessa orientadora nos últimos meses;
Não tive sorte pois paguei mais cerca de 500 euros para poder acabar a tese e poder entrega-la;
Não tive sorte pois quando a fui buscar a reprografia tinha erros, teve que voltar para ser impressa, e já não pude ir aos Serviços Académicos entregar;
Não tive sorte com a inscrição pois quando fui entrega-la, hoje, ainda tive que esperar para ver se eles podiam recebe-la visto que ainda não estava inscrito!

No meio disto tudo, de ano e meio, sinto-me um bocadinho frustado
É a conclusão que tiro...

Devia ser algo que me desse prazer, mas foi algo que fiz sem vontade nenhuma.

Se pudesse...

Tenho saudades...

do Kit Kat que o meu pai trazia todas as noites;
de acordar às 7 da manhã e lavar a cara com água fria, no Inverno, para ir para a Secundária;
de adormercer a minha irmã quando era peqena;
de neve;
de passar o verão a jogar futebol;
de ordenhar as vacas;
de uma caneta que tinha o símbolo antigo dos gelados "Olá";
da novela: Kubanacan e Celebridade;
de estudar para os testes do Secundário;
dos meus caracóis nos cabelos;
das massagens nos meus caracóis;
de ter a Marina a dizer: "Meninos, eu não quria ser chata, mas estou cheia de sono, vamos embora!";
da minha avó;
de comer pão com marmelada;
de ter a mania de escrever sempre com a mesma caneta;
de passear ao fim-de-semana sempre ao mesmo sítio;
de dançar;
de ver os Jogos Sem Fronteiras e todos quererem ser Portugal quando se jogava;
de comer Cerelac e Nestum;
de deitar-me cedo;
de não usar óculos;
de ter estagiado na Farol de Ideias;
de comer um Mini Milk;

E tu, de que tens saudades?

As palavras

Para escrever é preciso vontade. E nem sempre essa vontade existe.
Agora não é que haja vontade e se precise escrever, mas realmente, eu gosto de passar por aqui.
Já pensei em acabar com este blog, e não criar outro. Mas simplesmente não consigo.Tenho aqui comentários e textos que podem ser banal, mas que eu gosto deles, afinal fui eu que os escrevi.E assim continuo a escrever sobre tudo e sobre nada, mas sempre a pensar que o faço por algum motivo. E não me posso calar. Não consigo.

Abro esta página com vontade de dizer algo, mas não sei bem o quê!
Fica apenas a vontade de escrever mas sem saber o que escrever.
É complicado, não é?
Eu também acho que sim, mas afinal de contas a vida é dificil e ninguém disse que escrever também não é.
Muitas das vezes as palavras não saem, ou como diz a poeta (e a música) já gastamos as palavras...
Será assim?
Será que as palavras estão demasiados gastas para poder escreve-las e senti-las?

Voltar


Eu esqueci este blog. Não por mal, mas porque as escolhas assim o fazem. Antes vinha aqui contar as minhas histórias, as minhas coisas abstractas, os insólitos do dia a dia. Com o tempo isso foi-se perdendo.

Mas hoje voltei. Não sei porquê. Apeteceu-me, talvez Saudosismo. Afinal de contas sou português.

Mas voltei, e espero estar de volta com mais regulaidade. Voltar aqui, voltar a acreditar, voltar a sonhar, voltar a viver... Vamos ver se isso é possível.

O tempo passa, a angústia de vez em quando fica e transforma-se num nó na garganta. Sentimos cada coisa.
QUAL FOI A TUA...

1. Última bebida: Leite
2. Última chamada telefónica: Jo
3. Última sms: Daniela
4. Última música que ouviste: "Erotas" - Sirusho
5. Última vez que choraste: Choro por dentro

ALGUMA VEZ:
7. Foste traído: Sim
8. Beijaste alguém e arrependeste-te: Sim
9. Perdeste alguém especial: Sim
11. Estiveste bebedo e vomitaste: Sim

LISTA TRÊS CORES FAVORITAS:
12. Verde
13. Branco
14. Amarelo

ESTE ANO TU:
15. Fizeste um novo amigo: sim
16. Ficaste caído de amores (apaixonaste-te): Não
17. Riste até chorar: sim
18. Conheceste alguém que te mudou: Não
19. Descobriste quem eram os teus verdadeiros amigos: vai-se descobrindo
20. Descobriste que alguém andava a falar de ti: sim, fala-se muito de mim
21. Beijaste alguém da tua lista de amigos: sim
22 . Qual foi a melhor coisa que te aconteceu: 14 de Abril

SOBRE TI:
23. Quantas pessoas da tua lista de amigos conheces na vida real: Quase Todos
24. Quantos filhos queres: eu quero 2,3...
25. Tens algum animal de estimação: tenho
26. O que é que fizeste no teu último aniversário: Trabalhei
28. O que estavas a fazer à meia-noite da noite passada: aqui
29. Diz algo pelo qual NÃO consegues esperar mais: Certezas
30. A última vez que viste a tua mãe: há pouco tempo
31. Qual é a coisa que desejas mudar na tua vida: Certezas
32. O que estás a ouvir neste momento: ouço o barulho da TV
33. Alguma vez falaste com uma pessoa chamada Tom: não
34. Quem é que te está a irritar neste preciso momento: Uma pessoa
35. Web page mais visitada: Facebook
36.Qual é o teu verdadeiro nome: José
37. Nicknames: climatico
38. Estado de Relação: ~
39. Signo: Carneiro
40. Masculino ou Feminino: Masculino
41. Escola Primária: Escola Primária de Monção e Escola Primária de Troviscoso
42. Escola Secundária: Escola Secundária de Monção
43. Universidade: Universidade do Minho
44. Escreve o quer que seja aqui (o que te apetecer): Sê verdadeiro!
45. Longo ou Curto: Nenhum
46. Altura: 1.69m
47. Tens uma atracção por alguém: Sim
48. O que gostas em relação a ti: olhos
49. Piercings: não
50. Tatuagens: não

PRIMEIROS:
52. Primeira cirurgia: nunca passei por isso
53. Primeiro piercing: nunca fiz nenhum
54. Melhor(es) Amigo(s): Cláudia, Laura, Marina, José, Ana, João
55. Primeiro desporto: Futebol
56. Primeiras férias: Miranda do Douro
58. Primeiro par de ténis: inão sei

NESTE MOMENTO:
59. A comer: não
60. A beber: não
61. Estou prestes a: a não acabar isto que é muito grande
62. A ouvir: o mesmo de ao bocado
63. À espera de: algo especial
64. O teu futuro: não sei, muitas dúvidas
65. Casar: gostava
66. Carreira: por descobrir

O QUE É MELHOR:
67. Lábios ou olhos: olhos
68. Abraços ou beijos: abraços
69. Maior ou mais pequeno: pequeno
70. Mais velho ou mais novo: novo
71. Romântico ou Espontâneo: romântico
72. Boa barriga ou bons braços: braços
73. Sensível ou espalhafatoso: sensível
74. Nada sério ou Relações: Relações

ALGUMA VEZ:
76. Beijaste um estranho: sim
79. Sexo no primeiro encontro: não
80. Partiste o coração de alguém: penso que não
81. Foste preso: não
82. Deitaste alguém abaixo: Espero que não
83. Choraste quando alguém morreu: chorei
84. Já te apaixonaste por uma rapariga: já
85. Apaixonaste-te por uma amiga: já

ACREDITAS EM:
86. Ti: já acreditei muito mais
87. Milagres: Não
88. Amor à primeira vista: só amor por um olhar
89. Céu: sim, olho para cim e vejo-o todos os dias
90. Pai Natal: não, só no menino Jesus
91. Beijo no primeiro encontro: Talvez
92. Anjos: Sim

RESPONDE SINCERAMENTE:
94. Tiveste mais que um namorado/a ao mesmo tempo: não
95. Cantaste hoje: não
96. Alguma vez traíste alguém: sim
97. Se pudesses voltar atrás no tempo, quanto tempo recuavas: alguns anos
98. O momento em que escolherás reviver: Vários
99. Tens medo de te apaixonar: sim, tenho
100. Tens medo de postar isto como 100 verdades: Não

Enterro da Gata

Pois é...Foi o último ano em que assiti ao Enterro da Gata como aluno do curso de Comunicação Social/Ciências da Comunicação.
Foram 5 anos cheios de desafios, coisa boas e más. Cheio de aprendizagem...

Agora é ter que acabar a tese de mestrado para que, além de licenciado, me torne mestre!
Um obrigado a todos os que acompanharam este desafio!
Foram 5 anos!

Um Rasto de Hortelã

Fonte: Visão

A escritora, letrista e actriz Rosa Lobato Faria, morreu hoje, dia 2, aos 77 anos, depois de uma semana de internamento num hospital privado. Foi colaboradora (dizendo poesias) de David Mourão-Ferreira em programas literários da televisão. Autora, entre outros, dos romances Flor do Sal, A Trança de Inês, Romance de Cordélia, O Prenúncio das Águas, ou mais recentemente A Estrela de Gonçalo Enes (ed. Quasi). Publicamos aqui a 'autobiografia' que escreveu para o JL há dois anos

Autobiografia

Quando eu era pequena havia um mistério chamado Infância. Nunca tínhamos ouvido falar de coisas aberrantes como educação sexual, política e pedofilia. Vivíamos num mundo mágico de princesas imaginárias, príncipes encantados e animais que falavam. A pior pessoa que conhecíamos era a Bruxa da Branca de Neve. Fazíamos hospitais para as formigas onde as camas eram folhinhas de oliveira e não comíamos à mesa com os adultos. Isto poupava-nos a conversas enfadonhas e incompreensíveis, a milhas do nosso mundo tão outro, e deixava-nos livres para projectos essenciais, como ir ver oscilar os agriões nos regatos e fazer colares e brincos de cerejas. Baptizávamos as árvores, passeávamos de burro, fabricávamos grinaldas de flores do campo. Fazíamos quadras ao desafio, inventávamos palavras e entoávamos melodias nunca aprendidas.

Na Infância as escolas ainda não tinham fechado. Ensinavam-nos coisas inúteis como as regras da sintaxe e da ortografia, coisas traumáticas como sujeitos, predicados e complementos directos, coisas imbecis como verbos e tabuadas. Tinham a infeliz ideia de nos ensinar a pensar e a surpreendente mania de acreditar que isso era bom.
Não batíamos na professora, levávamos-lhe flores.

E depois ainda havia infância para perceber o aroma do suco das maçãs trincadas com dentes novos, um rasto de hortelã nos aventais, a angustia de esperar o nascer do sol sem ter a certeza de que viria (não fosse a ousadia dos pássaros só visíveis na luz indecisa da aurora), a beleza das cantigas límpidas das camponesas, o fulgor das papoilas. E havia a praia, o mar, as bolas de Berlim. (As bolas de Berlim são uma espécie de ex-libris da Infância e nunca mais na vida houve fosse o que fosse que nos soubesse tão bem).

Aos quatro anos aprendi a ler; aos seis fazia versos, aos nove ensinaram-me inglês e pude alargar o âmbito das minhas leituras infantis. Aos treze fui, interna, para o Colégio. Ali havia muitas raparigas que cheiravam a pão, escreviam cartas às escondidas, e sonhavam com os filmes que viam nas férias. Tínhamos a certeza de que o Tyrone Power havia de vir buscar-nos, com os seus olhos morenos, depois de nos ter visto fazer uma entrada espampanante no salão de baile onde o Fred Astaire já nos teria escolhido para seu par ideal.

Chamava-se a isto Adolescência, as formas cresciam-nos como as necessidades do espírito, música, leitura, poesia, para mim sobretudo literatura, história universal, história de arte, descobrimentos e o Camões a contar aquilo tudo, e as professoras a dizerem, aplica-te, menina, que vais ser escritora.

Eram aulas gloriosas, em que a espuma do mar entrava pela janela, a música da poesia medieval ressoava nas paredes cheias de sol, ay eu coitada, como vivo em gran cuidado, e ay flores, se sabedes novas, vai-las lavar alva, e o rio corria entre as carteiras e nele molhávamos os pés e as almas.

Além de tudo isto, que sorte, ainda havia tremas e acentos graves.
Mas também tínhamos a célebre aula de Economia Doméstica de onde saíamos com a sensação de que a mulher era uma merdinha frágil, sem vontade própria, sempre a obedecer ao marido, fraca de espírito que não de corpo, pois, tendo passado o dia inteiro a esfregar o chão com palha de aço, a espalhar cera, a puxar-lhe o lustro, mal ouvia a chave na porta havia de apresentar-se ao macho milagrosamente fresca, vestida de Doris Day, a mesa posta, o jantarinho rescendente, e nem uma unha partida, nem um cabelo desalinhado, lá-lá-lá, chegaste, meu amor, que felicidade! (A professora era uma solteirona, mais sonhadora do que nós, que sabia todas as receitas do mundo para tirar todas as nódoas do mundo e os melhores truques para arear os tachos de cobre que ninguém tinha na vida real).

Mas o que sabíamos nós da vida real? Aos 17 anos entrei para a Faculdade sem fazer a mínima ideia do que isso fosse. Aos 19 casei-me, ainda completamente em branco (e não me refiro só à cor do vestido). Só seis anos, três filhos e centenas de livros mais tarde é que resolvi arrumar os meus valores como quem arruma um guarda-vestidos. Isto não, isto não se usa, isto não gosto, isto sim, isto seguramente, isto talvez. Os preconceitos foram os primeiros a desandar, assim como todos os itens que à pergunta porquê só me tinham respondido porque sim, ou, pior, porque sempre foi assim. E eu, tumba, lixo, se sempre foi assim é altura de deixar de ser e começar a abrir caminho às gerações futuras (ainda não sabia que entre os meus 12 netos se contariam nove mulheres). Ouvi ontem uma jovem a dizer, a revolução que nós fizemos nos últimos anos. Não meu amor: a revolução que NÓS fizemos nos últimos 50 anos. Mas não interessa quem fez o quê. É preciso é que tenha sido feito. E que seja feito. E eu fiz tudo, quando ainda não era suposto. Quando descobri que ser livre era acreditar em mim própria, nos meus poucos, mas bons, valores pessoais.

Depois foram as circunstâncias da vida. A alegria de mais um filho, erros, acertos, disparates, generosidades, ingenuidades, tudo muito bom para aprender alguma coisa. Tudo muito bom. Aprender é a palavra chave e dou por mal empregue o dia em que não aprendo nada. Ainda espero ter tempo de aprender muita coisa, agora que decidi que a Bíblia é uma metáfora da vida humana e posso glosar essa descoberta até, praticamente, ao infinito.

Pois é. Eu achava, pobre de mim, que era poetisa. Ainda não sabia que estava só a tirar apontamentos para o que havia de fazer mais tarde. A ganhar intimidade, cumplicidade com as palavras. Também escrevia crónicas e contos e recados à mulher-a-dias. E de repente, aos 63 anos, renasci. Cresceu-me uma alma de romancista e vá de escrever dez romances em 12 anos, mais um livro de contos (Os Linhos da Avó) e sete ou oito livros infantis. (Esta não é a minha área, mas não sei porquê, pedem-me livros infantis. Ainda não escrevi nenhum que me procurasse como acontece com os romances para adultos, que vêm de noite ou quando vou no comboio e se me insinuam nos interstícios do cérebro, e me atiram para outra dimensão e me fazem sorrir por dentro o tempo todo e me tornam mais disponível, mais alegre, mais nova).

Isto da idade também tem a sua graça. Por fora, realmente, nota-se muito. Mas eu pouco olho para o espelho e esqueço-me dessa história da imagem. Quando estou em processo criativo sinto-me bonita. É como se tivesse luzinhas na cabeça. Há 45 anos, com aquela soberba muito feminina, costumava dizer que o meu espelho eram os olhos dos homens. Agora são os olhos dos meus leitores, sem distinção de sexo, raça, idade ou religião. É um progresso enorme.

Se isto fosse uma autobiografia teria que dizer que, perto dos 30, comecei a dizer poesia na televisão e pelos 40 e tais pus-me a fazer umas maluqueiras em novelas, séries, etc. Também escrevi algumas destas coisas e daqui senti-me tentada a escrever para o palco, que é uma das coisas mais consoladoras que existem (outra pessoa diria gratificantes, mas eu, não sei porquê, embirro com essa palavra). Não há nada mais bonito do que ver as nossas palavras ganharem vida, e sangue, e alma, pela voz e pelo corpo e pela inteligência dos actores. Adoro actores. Mas não me atrevo a fazer teatro porque não aprendi.

Que mais? Ah, as cantigas. Já escrevi mais de mil e 500 e é uma das coisas mais divertidas que me aconteceu. Ouvir a música e perceber o que é que lá vem escrito, porque a melodia, como o vento, tem uma alma e é preciso descobrir o que ela esconde. Depois é uma lotaria. Ou me cantam maravilhosamente bem ou tristemente mal. Mas há que arriscar e, no fundo, é só uma cantiga. Irrelevante.

Se isto fosse uma autobiografia teria muitas outras coisas para contar. Mas não conto. Primeiro, porque não quero. Segundo, porque só me dão este espaço que, para 75 anos de vida, convenhamos, não é excessivo.
Encontramo-nos no meu próximo romance.